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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Kazuo Ishiguro - O Prêmio Nobel de Literatura de 2017


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RIO — A Academia Sueca anunciou nesta quinta-feira o escritor nipo-britânico Kazuo Ishiguro como o ganhador do Nobel de Literatura de 2017. Segundo o anúncio, feito nesta quinta-feira, às 8h (horário de Brasília), Ishiguro recebe o prêmio por "seus romances de grande força emocional, que reveleram o abismo sob nossa sensação ilusória de conexão com o mundo". É o 29º autor de língua inglesa laureado pelo Nobel em toda a história da premiação.
Nascido no Japão, mas radicado na Inglaterra desde os 6 anos de idade, Ishiguro teve recentemente relançado no Brasil o romance "Não me abandone jamais", ficção científica publicada pela Companhia das Letras em 2005 e adaptada para o cinema pelo cineasta inglês Mark Romanek. Finalista do Man Booker Prize, a narrativa acompanha três clones humanos produzidos para doar órgãos. A partir de um triângulo amoroso, fala sobre memória, tempo e desilusão, temas recorrentes em sua obra.
Sua obra mais conhecida no mundo, porém, é "Vestígios do dia", que venceu o Booker Prize e também virou filme, dirigido por James Ivory e estrelado por Anthony Hopkins e Emma Thompson, em 1993. Escrito em apenas quatro semanas, o livro traz as memórias de um velho mordomo, que relembra os anos de trabalhos dedicados a seu patrão, um aristocrata inglês. Refletindo sobre o papel dos mordomos na história britânica, Ishiguro faz uma crônica de costumes que reflete sobre lealdade, sacrifício e felicidade perdida. Veja abaixo as principais obras de Ishiguro.
Por causa de sua origem japonesa e criação inglesa, Ishiguro cresceu sob a influência das duas culturas. Licenciou-se pela Universidade de Kent em 1978 e obteve um mestrado em escrita criativa pela Universidade de East Anglia em 1980. Um de seus desejos, disse ele certa vez, é ser conhecido como um "escritor de romances internacionais".
"Como escritor, eu sinto muita liberdade, lanço mão do que estiver ao meu alcance", afirmou ele, em entrevista ao GLOBO em 2015, na qual ele também falou sobre a relação peculiar de seus livros com a questão da memória.
"Sociedades muitas vezes precisam esquecer de coisas para continuar seguindo em frente", explicou. "Especialmente se um país passa por um período traumático como uma guerra, conflito civil ou ditadura. Não estou dizendo que as pessoas devam esquecer ou se lembrar das coisas necessariamente. Essa é uma questão muito mais complicada, mas existe um movimento no sentido de se omitir para poder sobreviver".



"MISTO DE JANE AUSTEN, KAFKA E PROUST"

"Trocando em miúdos, se você juntar Jane Austen e Franz Kafka, terá Kazuo Ishiguro, mas teria que adicionar também um pouco de Marcel Proust nessa mistura", disse Sara Danius, Secretária Permanente da Academia Sueca, em entrevista coletiva logo após o anúncio do prêmio. "Ao mesmo tempo, ele é um escritor de grande integridade, que desenvolve uma estética só sua".
Perguntada sobre a relação de Ishiguro com o tumultuado mundo atual, Sara Danius disse que o autor se interessa em entender o passado. "Mas ele não é um escritor proustiano, não pretende redimir o passado, e sim em explorar o que é preciso esquecer para sobreviver, como indivíduo e como sociedade".

Diferentemente de 2016, quando consagrou o cantor e compositor Bob Dylan, a Academia Sueca fez neste ano uma escolha consensual, confirmando os boatos de que iria premiar um autor mais canônico.
A Companhia das Letras, que publica as obras de Ishiguro no Brasil, irá reimprimir "Quando éramos órfãos" e "Noturnos" com novas capas e novo projeto gráfico.   (  O Globo )

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5 livros para conhecer Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de Literatura 2017


Mas, assim como Bob Dylan que foi premiado em 2016, Ishiguro surpreendeu: acabou levando o prêmio de 2017 e as 9 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 3,5 milhões).
Segundo a Academia Sueca, responsável pelo Nobel, Ishiguro recebeu a honraria porque "em seus romances de grande força emocional, revelou o abismo sob nossa sensação ilusória de conexão com o mundo".
Citando Marcel Proust, a secretária-permanente da Academia Sueca, Sara Danius, afirmou: "Ele é um pouco como uma mistura de Jane Austen, comédia de costumes e Franz Kafka. Se você misturar isso um pouco, não muito, você tem a essência de Ishiguro".
Fique por dentro do trabalho do autor (no Brasil publicado pela editora Companhia das Letras):

Os Vestígios do Dia
Neste romance vencedor do Man Booker Prize, de 1989, e estrelado no cinema por Anthony Hopkins, o narrador-protagonista reflete sobre o papel dos mordomos na história da Inglaterra. Depois de trabalhar durante anos na mansão de um lord, ele sai em viagem relembrando momentos da trajetória do ex-patrão, que simpatizava com o nazismo, e rememora suas próprias paixões. 


Não me Abandone Jamais 
Nesta ficção científica sutil e melancólica, Kathy relembra os anos em que viveu em um orfato no qual todos os "alunos" eram clones, produzidos para servir como peças de reposição. Em 2010, a obra ganhou uma adaptação homônima para o cinema, que conta com Carey Mulligan e Andrew Garfield, em um de seus primeiros papeis de destaque. 


Quando Éramos Órfãos
Usando um humor fino, o autor narra a história de um garoto inglês nascido em Xangai à procura de respostas para o sumiço dos pais, que desapareceram quando ele tinha nove anos. Em uma China que vive uma guerra sangrenta com o Japão, Christopher Banks acaba perseguindo também uma ordem para o mundo em que vive. 


O Gigante Enterrado
Uma das justificativas usadas pela comissão do Nobel para a escolha de Ishiguro foi sua capacidade de se reinventar. Evenderedando pelo lado da fantasia e se aproximando de autores como George R. R. Martin e Tolkien, o romance é prova disso. Na história, os personagens precisam lidar com as indefinições do amor e uma misteriosa névoa do esquecimento. 


Norturnos: Histórias de Música e Anoitecer
Afastando-se dos romances, na coleção de contos, Ishiguro se rende a narrativas leves e bem humoradas sonbre instrumentistas e amantes da música, de diversas partes do mundo. E traz histórias como as do saxofonista que decide fazer uma plástica para ganhar mais reconhecimento. 

( Revista Galileu )

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Quem é Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de literatura de 2017

Depois de Bob Dylan, romancista britânico que começou a publicar na década de 1980 leva prêmio da Academia Sueca

Foto: Toby Melville/Reuters
Ishiguro posa do lado de fora de casa no dia 5 de outubro de 2017, quando seu Nobel foi anunciado
O escritor britânico de ascendência japonesa Kazuo Ishiguro é o 114º vencedor do prêmio Nobel de literatura. A escolha da Academia Sueca, comissão de 18 membros vitalícios responsáveis por eleger anualmente o laureado, foi divulgada na manhã de quinta-feira (5).
Ishiguro, autor de “O Gigante Enterrado” e “Não me Abandone Jamais”, entre outros títulos, não estava entre as apostas mais cotadas – como a canadense Margaret Atwood e o queniano Ngugi Wa Thiong’o – para o prêmio de 2017. 
Ainda assim, o prêmio concedido ao romancista sinaliza um retorno à “normalidade”. Em 2016, o Nobel surpreendeu ao escolher o cantor e compositor americano Bob Dylan para receber o prêmio literário.
Se você misturar Jane Austen e Franz Kafka, tem a síntese de Kazuo Ishiguro. Mas é preciso adicionar um pouco de Marcel Proust. E então misturar, mas não muito, e eis seus escritos. Ao mesmo tempo, ele é um autor de grande integridade. Não se baseia em ninguém, desenvolveu um universo estético todo dele.
Sara Danius
secretária-permanente da Academia Sueca
A comparação feita por Danius entre Ishiguro e Proust não é à toa: os temas memória e esquecimento aparecem em vários de seus livros. O “não-dito” também tem um peso importante. Suas obras-primas e personagens emblemáticos, como o casal de “O Gigante Enterrado”, são permeadas de silêncios. “São personagens através dos quais ele fala e deixa de falar”, disse o editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, em entrevista ao Nexo.
Para Schwarcz, seu apelo está em ser sofisticado e se comunicar, ao mesmo tempo, com um público amplo, por meio de uma obra sutil e emotiva. Emotivamente, segundo ele, é difícil passar incólume pela leitura. “Há ótimos escritores que tocam um número mais limitado de pessoas. Ele não é desse tipo. Toca pessoas de várias formações e com treinamento maior ou menor para leituras literárias”, disse.

Ishiguro em trechos

O primeiro livro do escritor, de 1982, é “Uma pálida visão dos montes”, editado no Brasil pela Rocco. Em 2000, passou a ser publicado no país pela Companhia das Letras, pela qual tem atualmente cinco títulos disponíveis em português: “O gigante enterrado”, “Não me abandone jamais”, “Os vestígios do dia”, “Noturnos” e “Quando éramos órfãos”.
“Os Vestígios do Dia”, livro de Ishiguro de 1989, foi vencedor do Prêmio Man Booker do mesmo ano e adaptado para o cinema em 1993. O Man Booker é um prêmio criado em 1968 para a ficção de língua inglesa – um dos mais relevantes para o ano literário. “Não Me Abandone Jamais”, publicado em 2005, também virou filme, com título homônimo, em 2010.
‘Os Vestígios do Dia’ é um sonho de livro: uma comédia de costumes cativante que evolui quase que magicamente para um estudo profundo e doloroso sobre personalidade, classe e cultura.
Lawrence Graver
Em uma crítica publicada no New York Times em 1989
O livro já era considerado um clássico contemporâneo na Inglaterra, segundo o editor da Companhia das Letras, sendo inclusive adotado por escolas. “É um livro que, na Inglaterra, equivale um pouco a ‘Capitães de Areia’ aqui no Brasil. É leitura obrigatória nas escolas e de alguma forma retrata o espírito de um país”.

“Já ouvi pessoas descreverem o momento em que o barco abre as velas, o momento em que finalmente se perde a visão da terra. Imagino que a experiência de inquietação misturada com alegria que sempre  acompanha a descrição desse momento seja muito semelhante ao que senti no Ford, quando a paisagem em torno ficou estranha para mim. (...) Fui dominado pela sensação de que havia realmente deixado Dartington Hall para trás e devo confessar que senti um ligeiro sobressalto — sensação agravada pela desconfiança de que talvez não estivesse na estrada certa, e sim correndo na direção errada, para algum ermo.”
“Os Vestígios do Dia”
Kazuo Ishiguro

“Você teria que procurar muito tempo para encontrar algo parecido com as veredas sinuosas ou os prados tranquilos pelos quais a Inglaterra mais tarde se tornaria célebre. Em vez disso, o que havia eram quilômetros de terra desolada e inculta; por todo lado, trilhas toscas que atravessavam colinas escarpadas ou charnecas áridas. Uma névoa gelada pairava sobre rios e pântanos, muito útil aos ogros que ainda eram nativos daquela terra. As pessoas que moravam ali perto — e pode-se imaginar o grau de desespero que as teria levado a se estabelecer num lugar tão soturno — teriam razão de sobra para temer essas criaturas, cuja respiração ofegante se fazia ouvir muito antes de seus corpos deformados emergirem da neblina. Mas esses monstros não causavam espanto. As pessoas da época os teriam encarado como perigos cotidianos, e naquele tempo havia uma infinidade de outras coisas com que se preocupar”
“O Gigante Enterrado”
Kazuo Ishiguro

“Há também, é claro, o pequeno problema de eu não ser italiano, quanto mais veneziano. Acontece a mesma coisa com aquele tcheco grandão que toca sax alto. As pessoas gostam de nós, os outros músicos precisam de nós, mas não nos encaixamos exatamente no modelo oficial. Toquem e fiquem de boca fechada, só isso, é o que sempre dizem os gerentes dos cafés. Assim os turistas não percebem que vocês não são italianos. Vistam seu terno, ponham seus óculos escuros, penteiem o cabelo para trás, e ninguém vai saber a diferença; só não comecem a falar”
“Noturnos”
Kazuo Ishiguro

Nascido no Japão, o autor se mudou para o Reino Unido com a família quando tinha apenas cinco anos. Por isso escreve em inglês e é considerado britânico. Estudou escrita criativa na Universidade de East Anglia, na Inglaterra. É escritor em tempo integral  desde a publicação de seu primeiro romance.
( nexojornal )

Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/10/05/Quem-%C3%A9-Kazuo-Ishiguro-vencedor-do-Nobel-de-literatura-de-2017

© 2017 | Todos os direitos deste material são reservados ao NEXO JORNAL LTDA., conforme a Lei nº 9.610/98. A sua publicação, redistribuição, transmissão e reescrita sem autorização prévia é proibida.
Quem é Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de literatura de 2017 Juliana Domingos de Lima 05 Out 2017 (atualizado 06/Out 19h39) Depois de Bob Dylan, romancista britânico que começou a publicar na década de 1980 leva prêmio da Academia Sueca

Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/10/05/Quem-%C3%A9-Kazuo-Ishiguro-vencedor-do-Nobel-de-literatura-de-2017

© 2017 | Todos os direitos deste material são reservados ao NEXO JORNAL LTDA., conforme a Lei nº 9.610/98. A sua publicação, redistribuição, transmissão e reescrita sem autorização prévia é proibida.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

SITE "A DIVINA COMÉDIA "

 

Estamos lançando o site d"A DIVINA COMÉDIA", onde subdividimos em INFERNO, PURGATÓRIO  e PARAÍSO , os quais estão , por sua vez , subdividos segundo pecados e virtudes e compartimentos onde as almas cumprem pena ou gozo. Com apenas um clique, você acessa qualquer compartimento e se informa sobre pena , gozo e presença(s) nestes compartimentos. Também ilustrado com gravuras clássicas referentes e ainda mais uma página com informações variadas e curiosidades sobre esta magnífica obra da literatura universal que aqui está didaticamente exposta nos detalhes mais relevantes.

HAICAI - HISTÓRIA E ESTRUTURA ORIGINAL














Haikai ou haicai ( termo aportuguesado ) é uma forma de poesia provinda do Japão. Consiste em um poema de 17 sílabas distribuídas em três versos , imortalizado por Matsuo Bashô no século XVII.  O haikai de Bashô estava ligado a uma visão zen-budista do mundo, consistindo , para ele e seus discípulos, em um exercício espiritual , uma via para atingir a iluminação; diga-se também, que o haikai japonês compõe-se de duas partes fundamentais : uma é a circunstância geral, que situa o poema no tempo e no espaço ( como, por exemplo, determinada estação do ano, uma hora do dia, um elemento da paisagem ) , e a outra , a que apreende um momento particular, com algo de inesperado, ativo - a interação destas partes produz o efeito poético do conjunto. O haikai procura dizer ( ou sugerir ) muito com poucas palavras ; é  " emoção concentrada numa síntese fina " ( Guilherme de Almeida - poeta ).
Origem do Haikai
O haikai origina-se do tanka ou waka, forma de poema breve com 31 sílabas, que em sua divisão clássica, é constituído de um terceto ( com versos de 5 , 7 e 5 sílabas ) e um dístico ( tendo ambos os versos , 7 sílabas ). A maneira preferida de criação do tanka era fazer-se no dístico um comentário sobre o terceto que o antecedia. Esse procedimento favoreceu que o poema passasse a ser composto em forma dialogada, ou seja , por duas pessoas , uma incumbindo-se da primeira estrofe. denominada hokku , e outra da segunda , chamada wakiku . Acentuou-se assim, a independência das partes da composição.
Desse gênero , denominado renga  ( canto interligado ), origina-se outro, o haikai-renga ( canto interligado divertido ) , espécie de poema coletivo informal praticado fora da corte, que se desfaz de regras mais complexas incorporadas pelo renga , alcançando popularidade. Daí provém , então, o nome haikai ( formado da hai - brincadeira , gracejo - , e kai - harminia , realização ) , que, desprendido da série da qual fazia parte, contará com seus próprios cultivadores, de tendências diversas ( como Teitoku , 1571 - 1613 e Soin , 1604 - 1682 ). No entanto, o haikai só será de fato um gênero autônomo, com características próprias ( e conservando a ideia de popularidade ) , a partir do trabalho desenvolvido por Matsuo Bashô ( 1644 - 1694 ). Por ser o nome original, ele é apropriadamente atribuído à poesia de Bashô e seus muitos discípulos ( que, a rigor , praticavam o haicai-renga, pois o entendiam ainda como arte coletiva).  O haikai era, até Bashô , "uma espécie de diversão social e frívola , versinhos humorísticos e trocadilhescos ( Paulo Leminski - poeta ). Coube ao mestre, "converter esses exercícios de estética artificiosa em experiências espirituais " ( Octávio Paz - poeta ) .O haikai transforma-se então em recriação "de um momento privilegiado: exclamação poética, caligrafia, pintura e meditação, tudo junto " (Octávio Paz ) . Cultivador do budismo zen , o mestre dedicaria sua vida ( vivida como andarilho ) a essa modalidade de " poema em miniatura" , infundindo-lhe "uma alma imortal " ( Paulo Leminski ). Na visualização de Leminski,  " assim viajou Bashô , a pé, em sua vida errante por todo um Japão agreste e agrário, atrás de luas , lagos, templos dentro de florestas, buscando o vagalume do haikai " ; seus poemas seriam  "feridas , contradições zen, singulares vivências de uma sensibilidade à flor da pele " ( Leminski ).
É no final do século XIX que se introduz, por iniciativa do poeta Masoka Shiki ( 1867 - 1902 ) , o termo haiku ( criado a partir das palavras haikai e hokku ) , para designar o terceto concebido independentemente do renga , como arte individual ou solitária. ( Haikai e haiku são , hoje , palavras comumente usadas como sinônimas. )

Estrutura do Haikai
Há uma correspondência clara entre a estrutura métrica do haikai e o modo como o poema é concebido. O primeiro verso apresenta uma situação; o segundo, que se estende a medida do primeiro, sugere movimento ; e o terceiro , ao retomar a extensão do verso inicial, pode dar a ideia de retorno. Tradicionalmente, o haikai exprime uma imagem ligada à natureza e á percepção desta , à qual se associa uma emoção. O poema relaciona dois elementos básicos, segundo a lição de Bashô : um de 'permanência' ( a 'condição geral' , como por exemplo, a primavera, o fim do outono, etc. ), e outro de 'transformação' , a 'percepção momentânea' , gerando-se uma unidade a partir destes pólos.
Tomemos como exemplo um único haikai de bashô, o mais conhecido deles, apresentado aqui em tradução de Paulo Leminski:
                                                         velha lagoa
                                                        o sapo salta
                                                      o som da água

Para Leminski , este poema serve como modelo para se observar a " circunstância eterna, absoluta, cósmica, não humana " própria do primeiro verso ( que também estaria representada em versos como "lua de outono" , "vento de primavera", "dia de ano novo" , etc. ), a condição de mudança, de "acidente casual ", própria do segundo, e o "resultado da interação entre a ordem imutável do cosmos e o evento " , percebido no terceiro verso.
  No dizer de Octávio Paz , o haikai "é uma palavra cápsula carregada de poesia, capaz de fazer saltar a realidade aparente " ; para haroldo de Campos, o haikai funciona como uma espécie de objetiva portátil, apta a captar a realidade circunstante e o mundo interior, e a convertê-los em matéria visível" , consistindo numa "impressionante tradição de síntese absoluta e apresentação direta " que a poesia japonesa nos oferece.
O Haikai no Brasil
No Brasil , o haicai é praticado de acordo com concepções formais diversas, embora se mantenha, quase sempre, o terceto:pode ser composto de versos livres ou conforme o esquema métrico original ( o primeiro verso com 5 sílabas, o segundo com 7 e o terceiro com 5 ) ; pode conter rimas ou não, etc. Quanto ao teor do poema , ou quanto ao "espírito" do haikai, ora ele é criado em português de modo a afinar-se com sua concepção original , ora é visto como um formato capaz de abrigar todo e qualquer tema ou "ideia poética".
Referência : Marcelo Tápia
Mais três haicais :       

     uma ave a descer
além - leve e lenta - além
       (suave esquecer )
                                        Pedro Xisto


   alvorece: patos
ariscos o rio riscam
 e o sono dos sapos
                                        Pedro Xisto



        pó repouse em pó
ou venham ventos que elevem
       sobre a sorte o só
                                                      
                                      Pedro Xisto



BOB DYLAN -GANHADOR DO NOBEL DE LITERATURA DE 2016



O cantor e compositor americano Bob Dylan, de 75 anos, foi anunciado nesta quinta-feira (13) o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura 2016. A escolha foi divulgada em um evento em Estocolmo, na Suécia. Além do título, Dylan, que é considerado um dos maiores nomes da música do século XX, receberá 8 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 2,9 milhões).
A opção por um músico – e não por um escritor de ofício – soa incomum, mas o nome do Dylan vinha sendo cotado havia muitos anos. Também poeta e com diversos livros lançados (veja lista abaixo), o artista é aclamado sobretudo pelo lirismo de suas letras. Desta vez, no entanto, ele não estava entre os favoritos nas casas de apostas.
Reconhecendo que o Nobel de literatura de 2016 pode parecer surpreendente, a secretária-geral da Academia Sueca, Sara Danius, declarou que Dylan foi escolhido "por criar novas expressões poéticas dentro da grande tradição da música americana". 
A academia citou ainda que "Dylan tem o status de um ícone" e que "sua influência na música contemporânea é profunda". "Ele é provavelmente o maior poeta vivo", declarou Per Wastberg, membro da instituição.

A nota biográfica do prêmio afirma que "Dylan gravou um grande número de álbuns que giram em torno de temas como a condição humana, religião, política e amor". Dentre os clássicos compostos por ele, estão "Blowin' in the wind", "Subterranean homesick blues", "Mr. tambourine man" e "Like a rolling stone".

Carreira literária
Tanto na música como na literatura, Bob Dylan foi fortemente influenciado pela geração beatnik e pelos poetas modernos americanos. "Como artista, foi altamente versátil e trabalhou como pintor, ator e autor de roteiros", lembrou o comunicado da Academia Sueca.

Ao ganhar no Nobel, ele superou grandes autores que eram tidos como favoritos da vez, como o queniano Ngũgĩ wa Thiong'o, o japonês Haruki Murakami e o poeta sírio Adonis. Dylan é o primeiro americano a vencer o Nobel de literatura desde Toni Morrison, em 1993.

Na entrevista coletiva após o anúncio desta quinta, a secretária da Academia Sueca comparou a obra do novo Nobel à dos poetas gregos Homero e Safo. "Eles escreveram textos poéticos que foram feitos para serem ouvidos, declamados, muitas vezes com instrumentos [musicais], do mesmo jeito que Bob Dylan. Nós ainda lemos Homero e Safo, e nós apreciamos", disse Sara Danius.
O primeiro livro lançado por Dylan sem ser uma coletânea de suas letras foi o volume de poesias experimentais "Tarantula", de 1971. Dois anos mais tarde, saiu "Writings and drawings", com textos e desenhos. Ele é autor ainda do best-seller autobiográfico "Chronicles: Vol. One.", de 2004. A ideia inicial é que autobiografia teria outras duas partes, que não chegaram a ser editadas.

No Brasil, foram traduzidos os seguintes títulos: "Tarântula", publicado em 1986 pela editora Brasiliense; "Crônicas – Vol.1", publicado em 2005 pela Planeta; "Forever young", publicado em 2009 pela Martins Fontes; e "O homem deu nome a todos os bichos", publicado em 2012 pela Nossa Cultura.

O cantor e compositor Bob Dylan, durante premiação em fevereiro de 2015 (Foto: Vince Bucci/Invision/AP)O cantor e compositor Bob Dylan, durante premiação em fevereiro de 2015 (Foto: Vince Bucci/Invision/AP)
Perfil
Nascido Robert Allen Zimmerman em 24 de maio de 1941, em Duluth, Minnesota, nos Estados Unidos, Bob Dylan cresceu em uma família judaica de classe média em uma cidade mineradora. Na adolescência, tocou em diversas bandas, dedicando-se à tradição da música americana, especialmente ao folk e ao blues. Um de seus ídolos era o Woody Guthrie, um dos maiores nomes do folk.
 

 
Mais tarde, Dylan largou a faculdade e se mudou para Nova York onde se tornou famoso no início dos anos 1960. Lá, passou a tocar em casas de shows e cafés no famoso bairro Greewich Village.
Seu primeiro disco, "Bob Dylan", é de 1962. Entre trabalhos de inéditas, coletâneas e registros de shows, foram registrados oficialmente 69 álbuns (veja lista abaixo). O mais recente é "Fallen angles", de 2016, no qual interpreta clássicos americanos populariados por Frank Sinatra.
Foi somente em seu segundo disco, "The freewheelin' Bob Bylan", de 1963, que Dylan revelou seu talento como compositor – o álbum de estreia tinha somente duas canções originais. "The freewheelin'" tem a faixa que talvez seja o maior clássico de Dylan, "Blowin' in the wind".

Outros trabalhos marcantes foram "The times they are a-changin'", de 1964, "Bringing It all back home", de 1965, "Highway 61 revisited", também de 1965, e "Blonde on Blonde", de 1966, todos lançados em sequência. "Blood on the tracks", de 1975, é outro dos destaques daquelas primeiras décadas.

Na turnê mundial de 1966, Bob Dylan deixou os fãs perplexos e causou polêmica ao "trair o folk", trocando o violão pela guitarra elétrica. Chegou a ser chamado de "Judas" em razão da escolha. O material do período vai ser lançado em 36 discos na coletânea "Boby Dylan: The 1966 live recordings", prevista para novembro.

Da fase mais posterior, o perfil da Academia Sueca citou como "obras-primas" os discos ""Oh mercy", de 1989, "Time out of mind", de 1997, e "Modern times", de 2006.

Dez vezes vencedor do Grammy, Bob Dylan já se reinventou por diversas vezes, assumindo as identidades de desafiador do pop, estrela do rock, poeta sábio e cristão missionário – ele se converteu ao cristianismo em 1979.

Em 2004, Bob Dylan foi eleito pela revista americana "Rolling Stone" o segundo melhor artista de todos os tempos, atrás apenas dos Beatles.

O músico americano Bob Dylan em foto de abril de 1965, em Londres (Foto: AP/Arquivo)O músico americano Bob Dylan em foto de abril de 1965, em Londres (Foto: AP/Arquivo)
Veja, abaixo, a lista de livros de Bob Dylan:
"Bob Dylan song book" (1965)
"Bob Dylan himself: His words, his music" (1965)
"Bob Dylan: A collection" (1966)
"Bob Dylan: The Original" (1968)
"Tarântula" (1971)
"Poem to Joanie" - com introdução de A. J. Weberman (1971)
"Writings and Drawings" (1973)
"The songs of Bob Dylan: From 1966 through 1975" (1976)
"Lyrics, 1962-1985" (1985)
"Bob Dylan anthology" (1990)
"Drawn blank" (1994)
"Lyrics, 1962-1996" (1997)
"Lyrics, 1962-1999" (1999)
"O homem deu nome a todos os bichos" - ilustrado por Scott Menchin (1999)
"The definitive Bob Dylan songbook" (2001)
"Lyrics, 1962-2001" (2004)
"Crônicas - Vol.1" (2004)
"Bob Dylan: The drawn blank series" - editado por Ingrid Mössinger e Kerstin Drechsel (2007)
"Hollywood foto-rhetoric: The lost manuscript" - com fotografias de Barry Feinstein (2008)
"Lyrics" - editado por Heinrich Detering (2008)
"Forever young" - ilustrado por Paul Rogers (2008)
"Bob Dylan: The Brazil series" (2010)
"O homem deu nome a todos os bichos" - ilustrado por Jim Arnosky (2010)
"Blowin’ in the wind" - ilustrado por Jon J. Muth (2011)
"Bob Dylan: The asia series" (2011)
"Revisionist art" (2012)
"Bob Dylan: Face value - com textos de John Elderfield (2013)
"If dogs run free - ilustrado por Scott Campbell (2013)
"The lyrics : Since 1962"- editado por Christopher Ricks, Lisa Nemrow e Julie Nemrow (2014)
"If not for you" - ilustrado por David Walker (2016)

Veja, abaixo, os discos de Bob Dylan:
"Bob Dylan" (1962)
"The freewheelin' Bob Dylan" (1963)
"The times they are a-changin'" (1964)
"Another side of Bob Dylan" (1964)
"Bringing It all back home" (1965)
"Highway 61 revisited" (1965)
"Blonde on Blonde" (1966)
"Bob Dylan's greatest hits" (1967)
"John Wesley harding" (1968)
"Nashville skyline" (1969)
"Self portrait" (1970)
"New morning" (1970)
"Bob Dylan's greatest hits Vol. 2" (1971)
"Pat Garrett & Billy The Kid" (1973)
"Dylan" (1973)
"Planet waves" (1974)
"Before the flood" (1974)
"Blood on the tracks" (1975)
"The basement tapes" (1975)
"Desire" (1976)
"Hard rain" (1976)
"Street legal" (1978)
"Bob Dylan at Budokan" (1978)
"Slow train coming" (1979)
"Saved" (1980)
"Shot of love" (1981)
"Infidels" (1983)
"Real live" (1984)
"Empire burlesque" (1985)
"Biograph" (1985)
"Knocked out loaded" (1986)
"Down in the groove" (1988)
"Dylan & The Dead" (1989)
"Oh mercy" (1989)
"Under the red sky" (1990)
"The bootleg series vols. 1-3: Rare and unreleased 1961-1991" (1991)
"Good as I been to you" (1992)
"World gone wrong" (1993)
"Bob Dylan's greatest hits vol. 3" (1994)
"MTV Unplugged" (1995)
"The best of Bob Dylan" (1997)
"The songs of Jimmie Rodgers: A tribute" (1997)
"Time out of mind" (1997)
"The bootleg series, vol. 4: Bob Dylan live 1966: The ’Royal Albert Hall’ concert" (1998)
"The essential Bob Dylan" (2000)
”Love And Theft” (2001)
"The bootleg series, vol. 5: Live 1975: The Rolling Thunder Revue" (2002)
"Masked and anonymous: The soundtrack" (2003)
"Gotta serve somebody: The gospel songs of Bob Dylan" (2003)
"The bootleg series, vol. 6: Live 1964: Concert at Philharmonic Hall" (2004)
"The bootleg series, vol. 7: No direction home: The soundtrack" (2005)
"Live at the Gaslight 1962" (2005)
"Live at Carnegie Hall 1963" (2005)
"Modern times" (2006)
"The traveling Wilburys collection" (2007)
"The bootleg series, vol. 8: Tell tale signs: Rare and unreleased, 1989-2006" (2008)
"Together through life" (2009)
"Christmas in the heart" (2009)
"The original mono recordings" (2010)
"The bootleg series, vol. 9: The witmark demos: 1962-1964" (2010)
"Good rockin’ tonight: The legacy of sun" (2011)
"Timeless" (2011)
"Tempest" (2012)
"The lost notebooks of Hank Williams" (2011)
"The bootleg series, vol. 10: Another self portrait (2013)
"The bootleg series, vol. 11: The basement tapes complete" (2014)
"The bootleg Series, vol. 12: The cutting edge 1965-1966" (2015)
"Shadows in the night" (2015)
"Fallen angels" (2016)

Veja os vencedores do Nobel de Literatura dos últimos anos:
2015: Svetlana Alexiévitch (Belarus)
2014: Patrick Modiano (França)
2013: Alice Munro (Canadá)
2012: Mo Yan (China)
2011: Tomas Tranströmer (Suécia)
2010: Mario Vargas Llosa (Peru)
2009: Herta Müller (Romênia)
2008: Jean-Marie Gustave Le Clézio (França)
2007: Doris Lessing (Reino Unido)
2006: Orhan Pamuk (Turquia)
2005: Harold Pinter (Reino Unido)
2004: Elfriede Jelinek (Áustria)
2003: J. M. Coetzee (África do Sul)
2002: Imre Kertész (Hungria)

O cantor e compositor Bob Dylan, durante show no festival Vieilles Charrues em Carhaix-Plouguer, no oeste da França, em julho de 2012 (Foto: Fred Tanneau/AFP/Arquivo)O cantor e compositor Bob Dylan, durante show no festival Vieilles Charrues em Carhaix-Plouguer, no oeste da França, em julho de 2012 (Foto: Fred Tanneau/AFP/Arquivo)
Bob Dylan durante show no Hop Festival em Paddock Wood, na Inglaterra, em junho de 2012 (Foto: Ki Price/Reuters/Arquivo)Bob Dylan durante show no Hop Festival em Paddock Wood, na Inglaterra, em junho de 2012 (Foto: Ki Price/Reuters/Arquivo)
 
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Svetlana Alexiévitch vence Nobel de Literatura 2015


Escritora e jornalista bielorrussa é a 14ª mulher a receber o prêmio.
A escritora Svetlana Alexievich foi anunciada na manhã desta quinta-feira (8) vencedor do Nobel de Literatura 2015. A escolha foi divulgada em um evento na cidade de Estocolmo, na Suécia (Foto: Reuters/Stringer/Arquivo) 
A escritora Svetlana Alexiévitch foi anunciada na manhã desta quinta-feira (8) vencedor do Nobel de Literatura 2015. A escolha foi divulgada em um evento na cidade de Estocolmo, na Suécia (Foto: Reuters/Stringer/Arquivo)
A escritora e jornalista bielorrussa Svetlana Alexiévitch, de 67 anos, foi anunciada na manhã desta quinta-feira (8) vencedora do Nobel de Literatura 2015. Ela é a 14ª mulher a vencer o prêmio. A escolha foi divulgada em um evento na cidade de Estocolmo, na Suécia. Além do título, a escritora ganha 8 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 3,75 milhões).
Segundo o comitê da premiação, Alexiévitch foi escolhida por sua "obra polifônica, um monumento do sofrimento e da coragem em nosso tempo". Considerada cronista implacável da União Soviética, ela é uma das raras autoras de não ficção premiadas com o Nobel.

A cerimônia de entrega acontecerá em Estocolmo, no dia 10 de dezembro, aniversário da morte do fundador do prêmio, Alfred Nobel.

Sem títulos publicados no Brasil mas traduzida para o inglês e mais de dez idiomas, como espanhol, francês, alemão e chinês, Svetlana tem como livro mais conhecido "Voices from Chernobyl: The history of a nuclear disaster" ("Vozes de Chernobil: A história oral de um desastre nuclear"), publicado em 1997. Ele levou dez anos para ser escrito e reúne entrevistas com testemunhas da maior catástrofe nuclear da história. A obra chegou a ser proibida em Belarus.
"Acabo de informá-la", afirmou Sara Danius, secretária da Academia Sueca, ao canal público SVT. "Ela disse apenas uma palavra: Fantástico!", completou. "É uma grande escritora, que encontrou novos caminhos literários", disse Danius.

10 anos para escrever um livro
Svetlana sempre recorreu ao mesmo método para seus livros documentais, entrevistando durante muitos anos pessoas com experiências dramáticas: soldados soviéticos que retornaram da guerra no Afeganistão ("Zinky boys: Soviet voices from Afghanistan war") ou suicidas ("Enchanted with death"). 

Em uma entrevista que faz parte de uma coletânea de seus trabalhos publicada nesta quarta-feira (7) na França, Svetlana Alexiévitch afirma sobre seus textos: "Eu não estou tentando produzir um documento, mas esculpir a imagem de uma época. É por isso que eu levo entre sete e dez anos para escrever cada livro".
Ainda comenta: "Eu não sou jornalista. Não permaneço no nível da informação, mas exploro a vida das pessoas, sua compreensão da vida. Também não faço o trabalho de um historiador, porque tudo começa, para mim, no ponto de término da tarefa do historiador: o que se passava pela cabeça das pessoas após a batalha de Stalingrado ou após a explosão de Chernobil? Eu não escrevo a história dos fatos, mas a história das almas".
Biografia
Vinda de uma família de professores rurais, Svetlana Alexiévitch nasceu em 31 de maio de 1948 na cidade de Ivano-Frankivsk, na Ucrânia, mas cresceu em Belarus. Estudou jornalismo na Universidade de Minsk entre 1967 e 1972. Após a graduação, trabalhou num jornal local na província de Brest.

Depois ela voltou para Minsk, onde trabalhou na "Sel’skaja Gazeta", jornal das fazendas coletivas soviéticas. Lá, ela reuniu material para seu primeiro livro "War's unwomanly face" (1985), baseado em entrevistas com centenas de mulheres que participaram da Segunda Guerra Mundial.
Este trabalho é o primeiro do grande ciclo de livros de Svetlana Alexiévitch, "Voices of Utopia", em que a vida na União Soviética é retratada a partir da perspectiva do indivíduo. Por causa de sua crítica ao regime, Alexievich viveu periodicamente no exterior, na Itália, França, Alemanha e Suécia, entre outros lugares.
Voz das mulheres
Svetlana Alexievich é a 14ª quarta mulher a ganhar o Nobel de Literatura. Antes dela, a mais recente havia sido a autora canadense Alice Munrom, escolhida em 2013.

A proposta do livro de estreia de Svetlana – "War's unwomanly face" (1985), algo como "A guerra não tem uma face feminina" – era registrar relatos de mulheres que lutaram durante a Segunda Guerra Mundial.
"Tudo o que sabíamos da guerra foi contado pelos homens. Por que as mulheres que suportaram este mundo absolutamente masculino não defenderam sua história, suas palavras e seus sentimentos?", questionou a escritora certa vez.

Cronista implacável da União Soviética 

Svetlana Alexiévitch retrata o império soviético de Chernobil ao Afeganistão em livros que não são encontrados em seu país. A escritora não perdoa a visão do "homo sovieticus", incapaz de ser livre.

A obra da escritora é rica em depoimentos ouvidos com paciência ao longo do tempo. O título "O fim do homem vermelho ou a era do desencanto", um retrato sem concessões mas compassivo do "homo sovieticus", que saiu mais de 20 anos depois da implosão do império da União Soviética, recebeu em 2013 o prêmio Medicis de ensaio na França.
"Conheço bem aquele 'homem vermelho': sou eu, as pessoas que me cercam, meus pais", explicou Svetlana em uma ocasião. Mais tarde, completou: "Não desapareceu. E o adeus será muito demorado".
Por este motivo, a escritora diz que tem muito respeito pelos ucranianos que, com seus protestos, expulsaram do poder o ex-presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich em 2014.
"Hoje o modelo para todos é a Ucrânia. Seu desejo de romper por completo com o passado é digno de respeito", opinou a vencedora do Nobel sobre o país devastado pelo conflito entre separatistas pró-Rússia e as forças ucranianas.
"Penso que o império ainda não desapareceu. E, pessoalmente, tenho a inquietante impressão de que não desaparecerá sem derramamento de sangue."

Censurada
Svetlana Alexiévitch já foi acusada de "romper a imagem heroica da mulher soviética". Seu primeiro livro, "War's unwomanly face", teve de esperar pela Perestroika, a reforma do sistema aplicada por Mikhail Gorbachev, para ser publicado. Com a obra, alcançou fama em toda a União Soviética e no exterior.

"Vivemos entre carrascos e vítimas, os carrascos são difíceis de encontrar. As vítimas são nossa sociedade, e são muito numerosas", declarou Alexievich em entrevista à agência de AFP.
Outro livro que rendeu polêmica foi "Vozes de Chernobyl: A história oral de um desastre nuclear" (1997). Belarus – presidida por Alexander Lukashenko desde 1994, um dos países mais afetados pelas consequências de Chernobyl, onde o tema continua sendo tabu – proibiu o livro. Segundo a vencedora do Nobel, sua obra "não agrada" o presidente.
"Vivemos sob uma ditadura, há opositores na prisão, a sociedade tem medo e, ao mesmo tempo, é uma vulgar sociedade de consumo. As pessoas não se interessam pela política. É um período difícil", resumiu a escritora à AFP em 2013.
Os intelectuais bielorrussos também não parecem apreciar as opiniões de Svetlana, que reivindica a "cultura russa" da qual eles desejam distinguir-se e, ao mesmo tempo, passa a maior parte do tempo na Europa ocidental. Sua obra acaba por provocar uma mescla de atração e repulsa no país.
Não ficção
O Nobel para Svetlana Alexiévitch representa uma exceção porque é bastante incomum a Academia Sueca premiar um autor que escreva, predominantemente, não ficção. O prêmio é entregue desde 1901.

Antes da bielorrussa, raros exemplos de escritores do gênero a levar o Nobel foram Theodor Mommsen (1902), Bertrand Russell (1950), Winston Churchill (1953) e Jean-Paul Sartre (1964). O francês também escreveu romances, peças de teatro e crítica literária, mas foi reconhecido sobretudo por sua atuação como filósofo.
Outro vencedor do Nobel que, apesar de ter escrito ficção, se destacou com ensaios e memórias foi Elias Canetti (1981).

Abaixo, veja os vencedores do Nobel de Literatura dos últimos anos:
2014: Patrick Modiano (França)
2013: Alice Munro (Canadá)
2012: Mo Yan (China)
2011: Tomas Tranströmer (Suécia)
2010: Mario Vargas Llosa (Peru)
2009: Herta Müller (Romênia)
2008: Jean-Marie Gustave Le Clézio (França)
2007: Doris Lessing (Reino Unido)
2006: Orhan Pamuk (Turquia)
2005: Harold Pinter (Reino Unido)
2004: Elfriede Jelinek (Áustria)
2003: J. M. Coetzee (África do Sul)

Veja a lista das mulheres que já receberam o Nobel de Literatura:
2015: Svetlana Alexiévitch (Ucrânia)
2013: Alice Munro (Canadá)
2009: Herta Müller (Alemanha)
2007: Doris Lessing (Grã-Bretanha)
2004: Elfriede Jelinek (Áustria)
1996: Wislawa Szymborska (Polônia)
1993: Toni Morrison (EUA)
1991: Nadine Gordimer (África do Sul)
1966: Nelly Sachs (Suécia)
1945: Gabriela Mistral (Chile)
1938: Pearl Buck (EUA)
1928: Sigrid Undset (Noruega)
1926: Grazia Deledda (Itália)
1909: Selma Lagerlöf (Suécia)

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

OS LIVROS IMPRESSOS VÃO ACABAR ?












Um especialista em tecnologia afirma que os dias dos livros impressos estão contados. Conforme os e-books e os leitores eletrônicos aumentarem e se tornarem mais comuns, os livros físicos, ou seja, impressos, poderão desaparecer antes do esperado.

Segundo o especialista, em cinco anos o livro impresso deve ser substituído pelo eletrônico. Ele argumenta que o meio físico não pode ser distribuído suficientemente para as pessoas. Por exemplo, na África, meio milhão de pessoas querem livros. Não há como enviar essa quantidade de livros impressos, mas por meio do computador e da internet, sim.

O especialista ainda comenta que os países em desenvolvimento devem adotar os livros eletrônicos muito mais rápido do que os países desenvolvidos. Ele cita o caso do celular. Os telefones celulares ficaram mais populares no Camboja e em Uganda porque eles não tinham telefones. Nos países em que os telefones eram comuns, o uso generalizado do celular demorou mais para acontecer.

Analogamente, em países onde há muita falta de livros impressos, os eletrônicos serão aceitos muito mais rápido. O especialista também destaca a eficiência da escolha eletrônica. É possível colocar centenas de livros em apenas um notebook. A organização que ele participa, por exemplo, enviou 100 laptops, cada um com 100 livros, para uma região. Essa vila agora tem 10.000 livros.

Ele fundou a “One Laptop per Child” (Um laptop por criança) em 2005, com o objetivo de fornecer um notebook conectado à internet a todas as crianças em idade escolar no mundo inteiro.

Com a ajuda de especialistas do setor, a organização criou o XO, um computador portátil leve e durável. O computador custa cerca de 330,75 reais. É possível comprar um laptop para uma criança de algum país em desenvolvimento através desse site. [CNN]

sábado, 29 de novembro de 2014

Patrick Modiano - Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura - 2014

Patrick Modiano- Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura - 2014

                                           O prémio foi-lhe atribuído "pela ARTE da memória com a qual 
                                ele evocou os destinos humanos mais inatingíveis e descobriu a vida
                                do mundo da ocupação alemã".


Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura deste ano, Patrick Modiano (Boulogne-Billancourt, 30 de julho de1945)é um dos autores mais populares da França. Ele também teve alguns de seus livros lançados no Brasil. As edições da Rocco para os romances do francês estão atualmente fora de catálogo.

BIOGRAFIA

Nascido nos subúrbios de PARIS, Patrick Modiano é o filho de um comerciante judeu e uma atriz da Flandres. Ambos se conheceram durante a ocupação alemã. Por sua própria admissão Modiano se sentiu "não muito fortemente" ligado ao judaísmo. Ele cresceu inicialmente com os avós e, em seguida, passou a infância em um internato. A morte de seu irmão, com dez anos de idade, foi um choque para ele.

É AUTOR de MISSING Person (1978). Escreveu o argumento deLacombe Lucien (1974) em co-autoria com o realizador, Louis Malle. Em 1972 venceu o Grande Prémio do Romance da Academia Francesa, com o livro Les Boulevards de ceinture, e em 1978 o Prémio Goncourt com o livroRue des BOUTIQUES obscures. Em 2010, foi distinguido com o Prêmio Mundial Cino Del Duca, atribuído pelo Instituto de França, e dois anos depois, em 2012, venceu o Prémio Austríaco de Literatura Europeia.1

Centrada na repetição e nas su(b)tilezas, sua obra romanesca se aproxima de uma forma de autoficção pela sua busca pela juventude perdida. Ela conta a vida de indivíduos desconhecidos confrontados aos HORRORESda história.
Prêmio Nobel da Literatura 2014

Em 9 de outubro de 2014 foi distinguido com o Nobel de Literatura. As obras do escritor tem COMO cenário principal a Segunda Guerra Mundial e a ocupação da França pela Alemanha nazista. Modiano é o o décimo quinto AUTOR francês laureado com o Nobel de Literatura. O prémio foi-lhe atribuído "pela ARTE da memória com a qual ele evocou os destinos humanos mais inatingíveis e descobriu a vida do mundo da ocupação alemã".

OBRAS
La Place de l'Étoile (1968)
La Ronde de nuit (1969)
Les Boulevards de ceinture (1972) (Grand prix du roman de l'Académie française);
Lacombe Lucien (1974); roteiro coescrito com Louis Malle;
Villa triste (1975)
Livret de famille (1977)
Rue des boutiques obscures (1978) (Prix Goncourt);
Une Jeunesse (1981)
Memory Lane
De si braves garçons (1982)
Quartier Perdu (1984)
Dimanches d'août (1986)
Catherine Certitude (1988) (Ilustrado por Sempé);
Remise de Peine (1988)
Vestiaire de l'enfance (1989)
Voyage de noces (1990)
Fleurs de Ruine (1991)
Un Cirque passe (1992)
Chien de printemps (1993)
Du plus loin de l'oubli (1995);
Dora Bruder (1997);
Des inconnues (1999)
La Petite Bijou (2001)
Accident nocturne (2003)
Un pedigree (2004)
Dans le café de la jeunesse perdue (2007)
L'Horizon (2010)
L'Herbe de nuit (2012)
Pour que tu ne te perdes pas dans le quartier (2014)

O primeiro livro de Modiano, "La place de l'Etoile", foi lançado em 1968. Desde então, o francês se tornou um dos autores mais populares de seu país natal, com obras sobre memória. Além do Nobel, Modiano venceu o prestigioso prêmio Goncourt, em 1978, e o Grand Prix du Roman, da Academia francesa, seis anos antes.

Confira alguns dos títulos mais célebres do AUTOR de 69 anos.


“Ronda da noite” (1969): O segundo romance de Modiano causou polêmica ao se inspirar em figuras reais, COMO membros da Gestapo e da resistência francesa. Durante a ocupação, o narrador do romance acaba trabalhando tanto para os nazistas quanto para os franceses, conhecendo uma estranha fauna de personagens.


VILLA Triste” (1975): É um dos raros livros de Modiano dos anos 70 que não se situa na Paris ocupada da Segunda Guerra. Na trama, um jovem se refugia da Guerra da Argélia em uma cidade na fronteira com a Suíça. Fazendo-se passar por um conde, passa dias despreocupados e vazios em companhia de um excêntrico membro da ALTA sociedade e uma jovem atriz.

“Uma rua de ROMA” (1978): Vencedor do Prêmio Goncourt, é um dos romances mais populares do autor. Investiga mais uma vez a questão da memória pela figura de um detetive particular amnésico, que PARTE em busca dos labirintos do seu passado.

“Dora Bruder” (1998): Entre autoficção e biografia cruzada, este estranho livro reconstroi a trajetória de uma jovem judia, que desapareceu durante a ocupação nazista em Paris. Cinquenta anos depois, Modiano busca informações sobre a desconhecida, comparando momentos da sua própria VIDA com os da adolescente.

“Filomena Firmeza” (1988): Rara incursão do AUTOR no universo infantojuvenil, é o último livro de Modiano lançado no Brasil. Com ilustrações de Sempé, traz um relato sobre a importância do amor entre pais e filhos, convidando o leitor a revisitar a sua infância.